Os glaciares estão a derreter e os níveis do mar a aumentar em todo o mundo. O aquecimento global da Terra é evidente com os registos do aumento das temperaturas nos últimos anos. As alterações climáticas já não são apenas projecções da comunidade científica, mas factos visíveis que ocorrem todos os anos e em todo o mundo.
A primeira parte do relatório ‘Alterações Climáticas: As Bases da Ciência Física’ – o 4º Relatório de Avaliação das Alterações Climáticas – do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, foi apresentado hoje, 2 de Fevereiro, em Paris, e as projecções são assustadoras.
Se os dados projectados por centenas de investigações científicas, desenvolvidas nos últimos anos, são agora confirmados pelos fenómenos que testemunham as alterações climáticas que se têm vindo a verificar após a era pré-industrial, as projecções para o futuro não são melhores e apresentam-se preocupantes se nada for feito.
O painel do IPCC, composto por 2500 cientistas de 130 países, indica no relatório que mais ondas de calor, aumentos dos níveis do mar, secas, cheias, derretimento de glaciares e fenómenos como tsunamis e furacões serão cada vez mais comuns no século XXI.
As alterações climáticas estão a acelerar cada vez mais
Os cientistas não têm dúvidas que as alterações climáticas estão a ocorrer a um ritmo de velocidade maior devido às actividades humanas e escrevem no relatório que, «a proliferação observada do aquecimento da atmosfera, dos oceanos, juntamente com a perda de massa de gelo, suportam a conclusão que é ‘extremamente improvável’ que a alteração climática global dos últimos 50 anos possa ser explicada sem forças externas, e é muito ‘provável’ que isso não tenha sido provocado por causas naturais conhecidas sozinhas».
Na Europa, a temperatura aumentou em média 1 grau Celsius nos últimos 100 anos, mais do que em qualquer outra parte do mundo.
Os especialistas indicam que no último século a média do aquecimento global do planeta foi de 0,76ºC, sendo que os 11 anos mais quentes de que há registo ocorreram nos últimos 12 anos.
«Influências antropogénicas são ‘prováveis’ terem contribuído para as alterações nos padrões do vento, afectando as tendências das tempestades tropicais extras e os padrões de temperatura em ambos os hemisférios», escrevem os cientistas no relatório e adiantam que, «as temperaturas extremas das noites mais quentes, das noites frias e dos dias frios são ‘prováveis’ terem aumentado devido à influência antropogénica. É mais ‘provável’ do que ‘improvável’ que a influência antropogénica tenha aumentado o risco de ondas de calor».
Previsão para 2200
Para o futuro, e com base no pressuposto que nada será feito para limitar as emissões de gases de efeito de estufa para a atmosfera, os modelos de projeção revelam que a média da temperatura global em 2100 vai aumentar entre 1,8ºC e 4ºC.
«As emissões de gases de efeito de estufa continuadas nos níveis actuais e acima destes, vão provocar mais aquecimento e induzir muitas alterações do sistema climático global durante o século XXI, que são ‘muito prováveis’ que sejam maiores do que aquelas observadas durante o século XX», lê-se no relatório do IPCC.
Com base num cenário de aquecimento projectado para o século XXI, os cientistas escrevem no relatório que, «espera-se que o aquecimento seja maior na superfície da terra e nas latitudes mais altas do norte e menor no oceano sul e partes do norte do oceano Atlântico. A cobertura de neve está projectada para diminuir. Aumentos distribuídos do derretimento nas profundezas estão projectados para a maioria das regiões permanentemente congeladas».
Para além disso, «o gelo do mar está projectado para diminuir no Árctico e Antárctico em todos os cenários. Em algumas projecções, o gelo do mar do último verão no Árctico desaparece quase inteiramente na fase final do século XXI. É ‘muito provável’ que calores extremos, ondas de calor e ocorrências graves de precipitação continuem a tornar-se mais frequentes», escrevem os cientistas no relatório.
Perante as projecções do relatório do IPCC, a Comissão Europeia (CE) já anunciou, através do Comissário para o Ambiente, Stavros Dimas, a urgência de uma política internacional que reduza as emissões de gases de efeito de estufa para a atmosfera e uma maior protecção do ambiente.
«Estou profundamente preocupado com o ritmo acelerado e a aumento das alterações climáticas que apresenta. É agora mais urgente de que nunca que a comunidade internacional entre em sérias negociações sobre um compreensivo novo acordo mundial para impedir o aquecimento global», refere o Stavros Dimas, em comunicado da CE e adianta que, «para estabilizar as emissões globais dos gases de efeito de estufa, o próximo passo tem de ser dado pelos países desenvolvidos no corte de emissões em 30% até 2020 abaixo dos níveis de 1990».